Projetos do GEEON contra o câncer são aprovados pelo Ministério da Saúde; investimento será de R$ 9,5 milhões
Data da publicação: 28 de dezembro de 2021 Categoria: Notícias, Projetos de ExtensãoUma colaboração entre unidades de pesquisa e extensão da Universidade Federal do Ceará que trabalham com câncer conseguiu aprovar dois projetos no Programa Nacional de Apoio à Atenção Oncológica (PRONON), do Ministério da Saúde. Juntos, os projetos devem receber em torno de R$ 9,5 milhões para desenvolvimento de serviços e pesquisas na área oncológica, no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS).
Os projetos são resultado da aproximação entre o Grupo de Educação e Estudos Oncológicos (GEEON), projeto de extensão da UFC que há mais de 20 anos desenvolve um conjunto de ações assistenciais no combate ao câncer de mama, e dos Laboratórios de Oncologia Experimental (LOE) e de Citogenômica do Câncer, ambos vinculados ao Núcleo de Pesquisa e Desenvolvimento de Medicamentos (NPDM) da Universidade.
O PRONON permite captar e canalizar recursos privados, por meio de renúncia fiscal, para prevenção, combate e tratamento oncológico. Na edição deste ano, 290 projetos foram inscritos em todo o Brasil, tendo sido aprovados 30, dos quais 2 são do GEEON.
O QUE VAI SER PESQUISADO – O primeiro projeto prevê um estudo de epidemiologia molecular quanto ao tipo e à frequência de problemas oncológicos em populações quilombolas no Ceará. Ele nasceu a partir da experiência clínica do GEEON, que tem trabalho importante de rastreamento de casos de neoplasias da mama. Foi esse rastreamento que permitiu perceber a alta incidência da doença nessa comunidade.
“Identificamos uma população com muitos casos de câncer de mama, uma população de negros quilombolas, em Tururu, Itapipoca. Eram famílias com três, quatro, cinco mulheres com neoplasias muito agressivas. É muito fora da curva”, explica o oncologista Luiz Porto, professor da Faculdade de Medicina da UFC e fundador do GEEON, em 1992.
Com a experiência da clínica, o GEEON se associou ao Laboratório de Citogenômica, coordenado pelo Prof. Ronald Feitosa Pinheiro e pela Profª Sílvia Magalhães, que trabalha com mutações nos genes BRCA1 e BRCA2. Esses genes são responsáveis por corrigir defeitos que diariamente ocorrem quando o DNA humano é replicado. Quando esses genes de reparo sofrem algum tipo de mutação, as chances de um DNA “quebrado” ser replicado crescem e, com isso, aumenta a possibilidade de surgimento de um tumor maligno.
Baseado no conhecimento do Laboratório de Citogenômica é que se deseja avançar na identificação e prevenção do câncer de mama, bem como relacionar os casos em quilombolas a fatores de risco e predisposição genética.
MOLÉCULA – O segundo projeto segue na linha da pesquisa experimental e pretende identificar novos biomarcadores para facilitar o diagnóstico da síndrome mielodisplásica (SMD), um conjunto de alterações nas células sanguíneas que compromete seu amadurecimento e que pode evoluir para quadro de leucemia. Além disso, o projeto também se propõe a avaliar, em estudos pré-clínicos (usando modelos animais do biotério do NPDM), o potencial anticâncer de uma molécula inspirada na biodiversidade brasileira que já vem sendo estudada pelo Laboratório de Oncologia Experimental (LOE).
“O trabalho pretende estabelecer o modelo de leucemia mieloide aguda e de síndrome mielodisplásica em animais e usar esse composto para ver se realmente é capaz de reduzir o crescimento tumoral. Esse projeto vem fortalecer uma pesquisa muito bem estabelecida no âmbito da Universidade, que é de investigar novas drogas no ambiente do NPDM”, explica a Profª Cláudia do Ó Pessoa, pesquisadora do LOE.
Com isso, os pesquisadores acreditam que completam uma parte importante da cadeia do desenvolvimento de fármacos anticâncer: começando com atuação clínica junto ao paciente e a identificação dos biomarcadores, seguidos por prospecção e identificação de moléculas com potencial antitumoral e por pesquisa não clínica baseada em estudos de validação, farmacocinética e segurança em modelo animal.
FORMAÇÃO DE PESSOAL – Para alcançar os resultados pretendidos, os laboratórios receberão fortes investimentos em equipamentos. O Laboratório de Citogenômica, por exemplo, deve receber um novo sequenciador genético e se tornar a maior unidade de estudos de cromossomos do Norte e Nordeste.
Já o biotério do NPDM, que é referência regional, deve receber um aparelho que permite a marcação da célula tumoral por meio de fluorescência, o primeiro do tipo a ser disponibilizado no Norte e Nordeste. “É um aparelho que vai permitir acompanhar o crescimento tumoral em tempo real nos animais, por meio de um sistema de imagem por bioiluminescência. Ele pode ser comparado a um PET scan”, diz a Profª Cláudia.
Segundo os pesquisadores, os efeitos positivos desses projetos tendem a ir além do resultado do estudo em si, como a eventual validação de uma nova molécula anticâncer. Para eles, o que se está criando é um ambiente propício à validação de novos fármacos, que permitirá testar substâncias contra outras enfermidades. “O que vai ser fortalecido servirá para outras áreas, como a farmacológica para doenças crônicas como Alzheimer e Parkinson”, avalia a Profª Cláudia.
Os pesquisadores também destacam a formação de recursos humanos, tanto na graduação como na pós-graduação. “Na pesquisa com os quilombolas, por exemplo, teremos um sequenciador novo. No mínimo, vamos ter dois alunos de doutorado, dois de mestrado e dois de iniciação científica para trabalhar com sequenciamento de DNA. Ao mesmo tempo, a área de oncologia experimental irá gerar uma expertise que não se tem aqui. Para nós, tão importante quanto os resultados possíveis é a formação de pessoal”, diz o Prof. Ronald.
Além dos professores citados, o projeto conta com a participação do Prof. Manoel Odorico Moraes, fundador do LOE e coordenador do NPDM; da Profª Maria da Conceição Ferreira, do Departamento de Química Orgânica e Inorgânica; do Prof. Arlindo Araújo Moura, do Departamento de Zootecnia; da geneticista Cristiana Libardi, ex-professora visitante do Departamento de Cirurgia; do Prof. Josimar Eloy, do Curso de Farmácia; da técnica Roberta Taiane Germano Oliveira e do Prof. Francisco Washington Nepomuceno, da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (UNILAB); e da oncologista Daniele Calheiros, da Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (EBSERH).
Fontes: Prof. Ronald Feitosa Pinheiro, do Laboratório de Citogenômica do Câncer – e-mail: ronaldpinheiro@pq.cnpq.br; Profª Cláudia do Ó Pessoa, do Laboratório de Oncologia Experimental (LOE) – e-mail: cpessoa@ufc.br, via portal da UFC.